quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Análise do livro didático Vai Começar a Brincadeira: natureza e sociedade:

PRESSER, Margaret. Vai Começar a Brincadeira: natureza e sociedade: ciências, história e geografia: educação infantil: pré-escola/ Margaret Presser, Sorel Silva,Arnaldo Rodrigues: [ilustrações Exata Editoração, José Luis Juhas, Claudson Rocha (página de apresentação)]. São Paulo: FTD, 2002.

A coleção “Vai começar a brincadeira” possui diversos aspectos a serem considerados e, para iniciar uma análise mais profunda acerca dos conteúdos programados, se faz necessário observar primeiramente a parte gráfica e impressa da obra. De modo geral, apresenta uma boa qualidade de impressão gráfica tanto na construção textual quanto nas imagens e figuras apresentadas. Os conteúdos estão organizados individualmente por temas, e apesar de apresentarem uma sequência inflexível em termos de transitação pelos conteúdos, podem ser trabalhados numa ordem diferente da apresentada pelos autores; espaço: moradia, acreditamos que esse deva ser de fato, o primeiro conteúdo a ser trabalhado por considerar os conhecimentos prévios do aluno como ponto de partida para a aprendizagem; espaço público e localização: mais próximo, direito e esquerda,labirinto; patrimônio público, que pode ser trabalhado em conjunto com o tema espaço público; tempo: calendário, antes e depois, antigo e novo,permite utilizar como análise elementos que compõe os temas: espaço e patrimônio público; transformação do espaço, permite uma associação com todos os temas  que abordam o espaço; energia e indústria que estão diretamente conectados à compreensão de espaço apresentada pelo livro; alfabetização cartográfica: leitura, produção e percurso, permite a interpretação do espaço.
A linguagem utilizada pelos autores é outro ponto positivo da obra, por ser simples e apresentar de forma clara e concisa os assuntos, permitindo ao aluno a compreensão dos temas e das atividades propostas. Os conceitos e categorias geográficas são apresentados com clareza permitindo a sua identificação e utilização. Nos textos são trabalhadas duas categorias, valorizando o conceito geográfico, que são: paisagem e lugar (sem utilização do termo, mas com discussões que podem ser associados à categoria lugar).
Acompanhando os textos estão fotos e gravuras que complementam as informações trazidas pelos temas, propondo análises, interpretações e compreensão do conteúdo trabalhado. Embora as figuras apresentadas estejam em quantidade suficiente em relação ao conteúdo tratado, elas são predominantemente apresentadas em preto e branco, isso possibilita o desenvolvimento da criatividade das crianças ao colorir essas imagens, porém não destaca as atividades propostas, tornando um empecilho para garantir a atenção e o interesse dos alunos. Existem também algumas plantas representando cartograficamente lugares, sempre interligadas ao tema trabalhado e adequadas ao texto escrito.
Os temas abordados pelo livro também merecem comentários positivos por estarem apropriados a proposta de conteúdos para a série em questão, permitindo traçar objetivos que possibilitam a compreensão de elementos geográficos, assimilação inicial da ciência geográfica e a sua aplicação no conhecimento da realidade. As atividades permitem uma avaliação contínua, e estão dispostas sempre após o conteúdo abordado permitindo uma melhor fixação do tema tratado. A proposta metodológica dos autores oferece atividades manuais como pinturas, desenhos e colagens; todas extremamente divertidas e que favorecem o manuseio de itens pelos alunos, garantindo interação e a participação dos estudantes na construção do conhecimento. As atividades visam ainda desenvolver ações de cidadania e uma análise crítica da realidade ao possibilitar a compreensão do espaço público como bem comum a todos, cuja preservação também é dever de cada um.
Os autores desta obra se utilizam de diversos preceitos que fogem à perspectiva tradicional, onde o aluno é visto em segundo plano, estando no centro do ensino o professor, visto como detentor do saber e transmissor do conhecimento. Dentre as abordagens metodológicas trazidas pelo livro, podemos destacar duas perspectivas predominantes: escolanovista e socioconstrutivista.
As diversas atividades propostas têm como foco o “fazer” do aluno, dentre essas podemos citar os recortes e colagens, desenhos, pinturas e as montagens, todas estas fazendo um paralelo entre o conhecimento e o manuseio de objetos que favoreçam a criatividade e a assimilação do conteúdo. Estas são algumas das características do escolanovismo, um movimento educativo criado por John Dewey, propagado por seus seguidores nos Estados Unidos e difundido no Brasil por educadores como Anísio Teixeira e Cecília Meireles; nessa perspectiva anti-tradicionalista, os professores mantinham um respeito pelo amadurecimento dos alunos, e uma preocupação para com a experimentação das crianças em sala de aula.
Outra importante influência está no socioconstrutivismo. Os autores favorecem as relações entre os alunos, o aluno e o professor e entre os alunos e o meio. A partir dessas analogias e das valorizações das diferenças, o conhecimento e o respeito vão se consolidando e a criança aprende os conteúdos. Dessa perspectiva, podem ser indicadas as atividades do calendário, por exemplo, que pedem que o aluno descubra o aniversário dos colegas, e perguntem que atividades eles realizaram no dia anterior. Partindo de pequenos diálogos, as crianças redimensionam seus conhecimentos, aprendendo uns com os outros, num processo cíclico sempre mediado e auxiliado pelo professor.
De modo geral, a obra se mostra clara e comprometida com a formação da criança em diversos aspectos, desde a sua constituição moral e cívica, até o aperfeiçoamento de seu controle sensório-motor (na realização de atividades com colagens). A escolha dos assuntos, como já citado, é adequada à série em questão, e propõe um trabalho interligado entre os conteúdos. Uma preocupação visível dos autores está no divertimento das crianças pela quantidade de atividades que envolvem desenho e pintura. Outro interesse está na valorização das referências ao dia-a-dia do aluno: a grande maioria das atividades que envolvem a cartografia e o espaço cita ou traz analogias da moradia das crianças ou dos conhecimentos que elas possuem sobre o tema. Esse aspecto possibilita a realização dos trabalhos e pesquisas por qualquer estudante, independente do contexto sócio-econômico já que as informações e as referências na são classistas, mas partem da realidade comum.
Há outro importante adendo, em algumas atividades os autores propõem pesquisas com pessoas mais velhas, o que valoriza a cultura passada e favorece o diálogo e a aproximação entre gerações diversas. Essa construção do respeito tanto às regras quanto aos semelhantes e do cuidado aos domínios públicos são sempre revisitados pelos autores.
Sem dúvida, a obra foi extremamente bem construída e mantém, a todo o instante, o foco no aluno, o que no contexto atual onde o professor se desdobra para educar o aluno para a vida, já é de grande auxílio. Por todos esses fatores e pela construção mais abrangente do caráter do estudante, este livro se torna uma ferramenta de suma importância e merece ser referência para o trabalho de professores das séries inicias.     

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